
Por Dorotéo Fagundes
O município
de Taquari, que no guarani quer dizer rio das taquaras, foi desmembrado de
Triunfo em 04 de julho de 1849, tempo em que já era Freguesia e cresceu à beira
do rio que lhe deu o nome, na região inicialmente habitada pelos pacíficos e
engenhosos índios da tribo dos Patos, e a partir de 1764 recebeu o destino das
mãos açorianas, seguido pelo suor africano, depois dos alemães e italianos,
compondo o vale das terras mais férteis do mundo, produzindo laranja, limão,
mel e muita madeira.
Nascem nesse
cenário luminoso, várias expressões, como: Davi Canabarro, (general herói
farroupilha e do Brasil), Artur da Costa e Silva, (general e 27º presidente do
Brasil), a Eraci Rocha em 1948, (cantor regionalista gaúcho), uma voz limpa
como o rio de sua infância.
Conheci o
Eraci em 1980, com 32 anos, (eu com 21), na romântica Porto Alegre, ele já
veterano vendedor de serviços gráficos da Pallotti e cantor da MPB de finais de
semana, que circulava na capital pelos bares de Higienópolis a Zona Norte, bem
como nos churrascos em casa de amigos e clientes, tocando, cantando e
encantando a todos, com sua afinada voz de um timbre inconfundível, que
passeava sem esforços, toda a escala de dó a dó.
Foi numa
dessas em 1981, como cliente, pela Banner Publicidade, (agência na qual eu
laborava), que ele me convidou para um churrasco na Pallotti, momento em que
fiquei conhecendo seus dotes artísticos e como me disse, (atirando a tolha um
tanto desiludido com a música), pretendia dedicar-se mais a família e ao sítio,
que recentemente adquirira em sua terra natal.
Ocorre que
nesse convívio, (agência, gráfica e música), naquele ano levei o Eraci à
conhecer nossa tribo ligada ao nativismo, que tinha João Almeida, Elton
Saldanha, Talo Pereira, José Cláudio Machado, Gilberto Carvalho e outros, foi
quando o Elton ao ouvi-lo, de pronto o convidou à formar o Grupo Lechiguana e
se mandam para 1ª Seara da Canção de Carazinho e eu naquele fim de semana,
fiquei cobrindo o Saldanha no palco do Restaurante Roxi, que depois veio ser o
famoso Recanto do Tio Flôr, no bairro Meninos Deus.
Foi assim
que Eraci virou cantor regionalista gaúcho, (até então sua praia era o samba
canção e o de raiz), e por favor não me levem a mal dizendo de mim, a história
é que está narrando os fatos; logo em novembro de 1982, Thomaz Barcellos o
convidou para cantar uma música minha com letra dele, na 12ª Califórnia da
Canção, aonde defendemos a Picardia e fomos classificados, levando ainda o
Troféu Calhandra de Melhor Arranjo, (a gravação original está no You Tube); daí
em diante Eraci Rocha se encontrou na luz das estradas da musicalidade
regionalista, em exitosa carreira que o fez um dos mais laureados e aplaudidos cantores do Rio Grande do Sul, por
mérito próprio, inclusive por filiação partidária e fama, presidiu o Instituto
Gaúcho de Tradição e Folclore, no governo estadual de Olívio Dutra.
Assim,
falante, alegre, voluntarioso, amigo de todos, Eraci Rocha brilhou no orbe
terreno gaúcho até o dia 23 de novembro de 2017, quando uma china de nome
Diabete, calou sua voz e o taquariense ilustre, de 69 anos, foi cantar nos
palcos do céu, ficando centenas de gravações que relembram seu talento e sua
importância a cultura do pago.
Para pensar: Todos temos o direito de sermos
importantes na vida, mas isso só acontece, se não perdermos o idealismo, e o
Eraci nunca perdeu!