Nacional
10/11/2022 19H28
As críticas do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à
reforma trabalhista repercutiram mal no meio empresarial. Lula afirmou que a
legislação teria que ser rediscutida. Ele destacou que é a favor da
modernização das leis trabalhistas, mas que o trabalhador não pode abrir mão de
direitos.
O
presidente não citou um ponto específico da reforma nem uma solução para o
problema, mas a possibilidade de rediscutir o texto foi mal recebida. O
presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção),
Fernando Valente Pimentel, por exemplo, destacou que a indústria defende a
reforma de 2017.
Para
Pimentel, o texto trouxe segurança jurídica e modernizou as leis trabalhistas,
garantindo direitos constitucionais como o salário mínimo, o FGTS e as férias.
“A reforma não pode ser boa para um lado e ruim para o outro. Ela preservou os
direitos fundamentais e trouxe mais segurança jurídica, ao mesmo tempo que se
ajustou no âmbito das novas formas de trabalho, que vão continuar mudando”,
argumentou.
De acordo com o representante do setor têxtil, a reforma
trabalhista é importante por conta das mudanças mundiais com as novas
tecnologias, que geram novas necessidades e novos postos de trabalho que,
antes, não existiam. Por outro lado, ele destacou a importância de maior avanço
na proteção dos trabalhadores de aplicativos.
“É
óbvio que temos que avançar na proteção daqueles que não tem a proteção e
trabalham individualmente. Isso é um grande desafio para o Brasil e o mundo, e
deve ser encarado por nós. O maior exemplo disso é o iFood, o Uber. Temos que
criar maneiras de dar a proteção social, trazendo a contribuição desses
funcionários, diminuindo a vulnerabilidade de quem quer que seja no nosso
país”, ressaltou.
Um dos empresários que repercutiram a fala do presidente eleito
foi Fernando Homem de Mello, CEO da Vipex Transportes, empresa paulista do ramo
de logística. Para ele, revogar a reforma seria um retrocesso. “Manter a
reforma é fundamental para a saúde do ambiente de negócios do país. Uma eventual
revogação por parte do novo presidente eleito seria um retrocesso”, disse.
Mello
destacou que a reforma trouxe mudanças importantes para pequenas e médias
empresas, como a normatização da contratação de profissionais autônomos. “É uma
prática extremamente usual em empresas de logística e que trouxe a
possibilidade do trabalho em regime de exclusividade e continuidade sem
configurar uma relação de emprego”, afirmou.
O jurista Washington Barbosa, mestre em direito, destacou que Lula
passa uma mensagem errada ao fazer esse tipo de crítica num momento em que o
mercado “está esperando para ver como vai ser o posicionamento do governo, e
está repercutindo esse tipo de falha”.
Segundo
Barbosa, a reforma trabalhista teve pontos positivos e negativos, mas é importante
ressaltar que a emenda constitucional valorizou a negociação coletiva, um
pedido antigo dos movimentos sindicais. “Esse aspecto, especificamente, deveria
ser elogiado. E o que se deve fazer no futuro, e agora, é fortalecer esses
movimentos, no sentido que possam oferecer negociações mais vantajosas”,
explicou.
Para
o jurista, a fala também assusta empregadores, ao dar a impressão de
insegurança jurídica. “O efeito direto é reduzir os planejamentos, os planos de
investimento para 2023 e, até, se há contratações esperadas, deixar de fazê-las
ou desfazer contratos com base na reforma, com medo de que isso seja alterado
proximamente”, detalhou.