Transcender o tempo, uma das ambições mais antigas da humanidade. Quantas histórias temos contado na busca de assegurar, nem que seja no plano das ideias, que alcançaremos tal objetivo? Qual a razão da busca incansável por algo inatingível, ao menos por hora?

O avanço da genética tem nos oportunizado, de fato, cada vez mais saúde e longevidade. E qualquer pequeno progresso que nos permita superar nossa condição de meros mortais é o reconhecimento de que estamos no caminho da “evolução”. Mas o que leva o homem a buscar a imortalidade?

 Yuval Harari cita no seu famoso best seller Homo Deus que “na busca de saúde, felicidade e poder, os humanos modificarão primeiro uma das suas características, depois outra e outra, até não serem mais humanos”.

Fica o questionamento se nos tornaremos realmente superpoderosos caso alcancemos a imortalidade quando, em contrapartida, perdemos cada vez mais o controle das nossas próprias vidas. Será que a felicidade experenciada somente por meio de drogas antidepressivas, por exemplo, é válida?

Não tenho dúvidas de que qualquer um de nós torça para que mortes por câncer sejam, um dia, problemas do passado. O dilema maior é ter domínio sobre a evolução de doenças, mas permitir que a tecnologia nos manipule.

Caso você tivesse que optar entre ser um robô imortal, porém sem identidade, sonhos, medos, frustações ou um humano imperfeito e mortal, todavia provido de sentimentos e personalidade, qual você escolheria?

Quem lembra do filme Click, de 2006, em que o personagem Newman, interpretado pelo ator Adam Sandler, encontrava um controle remoto capaz de acelerar o tempo? Em um certo momento, o controle passa a apressar os acontecimentos automaticamente, justamente os que o protagonista costumava encurtar o prazo de duração.

O objetivo de Newman era chegar depressa no período em que seria promovido, porém, ao receber a promoção percebe que havia “pulado” inúmeras fases da sua vida e que o avanço profissional não lhe recompensaria pelo tempo e pelas pessoas deixadas para trás.

Em uma das passagens de Sêneca no livro Aprendendo a Viver ele bem descreve sobre o tempo: é a única coisa que realmente nos pertence, todas as outras nos são alheias. Por isso o tempo é algo que ninguém pode retribuir de quem tenha tirado.

Será que precisamos de mais tempo? Ou precisamos estimar o tempo que temos? A morte é, na verdade, nosso principal obstáculo? Ou quiçá a morte seja justamente a circunstância que nos permite aprender a viver?

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