O Ministério da Agricultura e Pecuária investiga a ocorrência de um caso atípico do “mal da vaca louca” (Encefalopatia Espongiforme Bovina), em um animal na região de Marabá, no estado do Pará.

Exames realizados apontaram resultado positivo para a variedade atípica da doença, agora o ministério aguarda o resultado da contraprova enviada para a realização de exames no Canadá. A expectativa é que o resultado das análises seja divulgado, nesta quinta-feira (23). 

Em nota, a pasta informou que todas as medidas estão sendo adotadas pelo governo. “A suspeita foi submetida à análise laboratorial para confirmação, ou não e, a partir do resultado, serão aplicadas imediatamente as ações cabíveis ”.

A possível confirmação pelo laboratório canadense, preocupa o mercado. Caso seja confirmado a doença, as exportações de carne bovina para a China devem ser suspensas. 

A existência de um protocolo sanitário assinado entre os dois países em junho de 2015 obriga o Brasil a comunicar o caso a Pequim e promover um autoembargo nos embarques, com a suspensão imediata das exportações.

O embargo é temporário, mas o tempo de duração é indeterminado – e é neste ponto que mora a preocupação de indústrias, pecuaristas e do mercado. 

“Esse caso atípico de EEB gera muita preocupação aqui no mercado brasileiro. O acordo que o Brasil tem com a China é de suspensão dos embarques, quando casos desse tipo são reportados. Então nos resta aguardar realmente para ver qual vai ser a posição chinesa, se nós vamos ter uma retomada das negociações de maneira mais célere ou se a gente vai conviver com um longo período do embargo da mesma maneira que nós vivemos em 2021”, explicou o analista da Safras & Mercados, Fernando Iglesias.

O analista avalia ainda as consequências do impacto da confirmação desse caso no mercado futuro do boi na quarta-feira, na abertura da Bolsa após o feriado. “Muito provavelmente nós vamos ver uma forte pressão de queda no mercado do boi. Está um mercado bastante pressionado. Recuando de uma maneira bastante contundente a B3 e uma mudança do comportamento da indústria frigorífica na compra de gado. Então são os primeiros sintomas que nós vamos ver no mercado.”

Iglesias explica também que os frigoríficos podem agir de maneira cautelosa até terem um posicionamento mais contundente por parte do país chines. “Enquanto não tivermos posicionamento por parte do nosso grande importador de carne bovina muito provavelmente não veremos uma atuação dos frigoríficos. Eles vão atuar de uma maneira bastante cautelosa. Diante do cenário que nós vivemos em 2021 foi um cenário bastante difícil, realmente muito traumático. Então por conta dessas questões é bastante provável que nós vejamos realmente uma mudança da indústria no mercado já na quarta-feira de cinzas”, conclui Iglesias. 

A última vez que um caso de EEB foi confirmado no Brasil foi em 2021. As exportações foram suspensas entre setembro e dezembro daquele mesmo ano, com o preço médio de exportação da carne bovina caindo 20% naquele período. Dois anos antes, 2019, um outro caso atípico foi confirmado, e o protocolo também foi acionado – mas naquela ocasião o embargo durou apenas 13 dias, sem grandes prejuízos à cadeia.

Segundo o analista Fernando Iglesias, do ponto de vista sanitário, casos atípicos de EEB não representam qualquer tipo de risco à saúde pública. Sob o olhar econômico, ele explica que deixar de vender para a China passa a ser um problema, em especial para os frigoríficos com operações restritas ao Brasil. 


Em janeiro, as exportações do complexo carnes somaram quase US$ 2 bilhões, recorde para o primeiro mês do ano. A carne bovina correspondeu a US$ 848 milhões e o volume exportado foi de 182 mil toneladas. A China é a maior importadora da proteína, correspondendo a cerca de 57% do valor exportado.